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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Cultura do milho com os dias contados?



A cultura do milho deve deixar de ser cultivada na região semiárida nordestina e ser substituída por outras culturas mais resistentes nos próximos anos. Pelo menos essa é a opinião do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) Paulo Nobre, que afirma: é preciso mudar outras culturas cultivadas no semiárido. "É tradicional o plantio de milho. Mas se você for à Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias), que estuda isso, você vai ver que o semiárido não é apto ao plantio e à colheita de milho. E as mudanças climáticas estão mostrando que vai se tornar ainda menos apto", alertou, durante participação na Segunda Conferência Internacional: Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas, realizada em Fortaleza (CE) até a última sexta-feira, 20.
A declaração do pesquisador pode ser polêmica e talvez, considerada por muitos, incabível. Porém, basta considerarmos apenas a produção de milho na região oeste, por exemplo, para vermos que o milho realmente é uma cultura de grande risco para os agricultores que vivem nas cidades do semiárido, como Mossoró. Em 2009, Mossoró e região produziram 43.817 toneladas de milho, enquanto que neste ano a produção não passou de 9.185 toneladas, redução de 79.04%, por conta da demora no início das chuvas e do inverno irregular.
O pesquisador da Embrapa/Emparn (Empresa de Pesquisas Agropecuárias do Rio Grande do Norte) Marcelo Abdon Lira concordou que o milho não é a cultura mais indicada para o semiárido. Mas observou que culturalmente é muito difícil mudar esse hábito nordestino. "Quando implantaram o sorgo nos anos 70, disseram que era para substituir o milho, mas isso aconteceu apenas parcialmente, já que o milho continua sendo produzido em grande escala", lembrou.
Para Marcelo, o caminho é diminuir a vulnerabilidade da cultura do milho. "O que tem sido feito há 30 anos através de pesquisas", afirmou.
O pesquisador ressaltou que os efeitos já são percebidos com a adoção de uma semente superprecoce no Nordeste brasileiro. Ele explicou que a semente não é mais resistente, mas tem ciclo de cultivo bem inferior ao da semente comum, cultivada nos anos 70. "O ciclo de plantio da semente comum leva até 140 dias, enquanto que a superprecoce leva 100 dias, no máximo", destacou.
Marcelo informou ainda que o cultivo de cactáceas pode ser uma saída para o semiárido, tendo, por exemplo, o cultivo de palmas forrageiras com uso mínimo de água em regiões do Rio Grande do Norte.
O técnico analista de mercado de produtos agrícolas Luís Gonzaga Araújo e Costa disse que não concorda com a opinião de Paulo Nobre porque não se pode mudar radicalmente as culturas da nossa região. "Nada impede a inserção de novas culturas, mas continuando com as culturas de subsistência que já existem por aqui", opinou.

‘Girassol já ocupa espaços, mas milho é insubstituível’
A cultura do girassol já é uma realidade é já ocupa seu espaço na lavoura de Mossoró. Mas isso nem de longe quer dizer que os agricultores esqueceram do bom e tradicional milho. O vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Lavoura de Mossoró, Francisco Gomes, explicou que o cultivo do girassol tem algumas vantagens, especialmente o preço de mercado, mas jamais vai substituir o milho. "O girassol deve ser visto como um complemento de renda para os agricultores, como foi feito com o algodão no passado, pois o milho é insubstituível", disse.
O agricultor José Arimateia Lopes explicou a importância do milho para o homem do campo. "Com o milho ninguém passa necessidade no campo, pois come as pessoas e os animais", disse, com a simplicidade peculiar do homem da zona rural.
O pesquisador Marcelo Abdon Lira lembrou que pratos feitos com o milho para complementar a defesa da cultura do milho em nossa região. "Você já viu alguém comer canjica ou pamonha de sorgo?", indagou.
Marcelo destacou que não se pode pensar apenas na parte técnica "para não desperdiçar essa oportunidade que é a cultura do milho". "Mesmo buscando alternativas, devemos pesquisar cada vez mais para diminuir os riscos da cultura do milho, defendeu, complementado por Luis Gonzaga, que afirmou que todas as culturas precisam de tecnologia para se desenvolver no semiárido, assim como o milho.
fonte: de fato

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